quinta-feira, 8 de setembro de 2016

DICA DE LEITURA: Caderno Diálogos Africanos

Capa dos Cadernos "Diálogos Africanos".
         A dica de leitura de hoje do Blog Afros, é o primeiro número dos "Cadernos Diálogos Africanos," que tem como objetivo disseminar estudos e análises, além de incitar o debate sobre a África e suas relações com o Brasil. Esse é um projeto do Instituto Lula, com iniciativa da África. 

Vale apena conferir.

Clique aqui para baixar: Cadernos Diálogos Africanos.

Por Ana Paula de Lima

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

A “Naturalização” do Racismo no Brasil, as faces perversas de suas práticas sociais

   A dinâmica das sociedades contemporâneas nos colocaram em situações em que precisamos nos questionar diariamente sobre o valor das diferenças, tendo em vista, que a globalização nos tornou sujeitos de participação, ativa ou passiva, das decisões ou lutas por melhores condições de vida, por direitos, por respeito e por aceitação, dentro de uma perspectiva que leva em conta as diversidades sociais e culturais humanas.
         Nas palavras que seguem, vamos nos ater a um fenômeno social, que se encontra enraizado na sociedade brasileira desde que os europeus pisaram nessas terras, há cerca de quinhentos anos, o Racismo, e os desafios que temos no debate e na concretização de políticas de Ação Afirmativa, que buscam inserir negros e negras no seio da construção de um país democrático, em que a igualdade de direitos e oportunidades sejam para todos, independentemente das nossas diversidades.
         Diante disso, precisamos nos questionar sobre o que é ser negro no Brasil. Essa é uma daquelas perguntas que exige de cada um de nós uma profunda reflexão sobre o que é o Brasil, e toda sua conjuntura social, política e cultural, e claro, realizar uma análise sobre a política de expansão europeia a parti do século XV em diante, e sobre o processo devastador e desumano, aos quais foram submetidos a população de muitos países africanos.
         Ser negro no Brasil, ainda é desafiar a própria condição de ser, é carregar nos ombros a moléstia da exclusão social e racial, estruturadas sob a máscara do Racismo, que se mostra, em faces sutis e deliberadas, o quanto é perversa, maquiavélica e assassina. A partir de seu julgo há o que podemos chamar de os “selecionados para o banquete dos direitos, da oportunidade e da liberdade”; existe o emprego para o rico e um para negros e pobres, os restaurantes, o acesso aos bens de consumo, aos cursos universitários, e tantas outras coisas.
         Para os setores conservadores da sociedade brasileira, que tentam a todo custo mascarar as consequencias dessa perversidade social, não existe Racismo; o Brasil é o que podemos chamar de paraíso da “democracia racial” (aqui quando me refiro a raça, estou levando em consideração os aspectos culturais e ao fenótipo), onde brancos, negros, índios e pobres, tem as mesmas condições e oportunidades para frequentar escolas de “alta qualidade”, os bancos das universidades, se elegerem para cargos públicos. Isso é discurso demagogo, racista e preconceituoso de pessoas que acreditam que brancos e ricos são superiores, que a vida de mulheres, homens, jovens e crianças negras valem bem menos, ou quase nada.
         Para dar mais força e credibilidade ao “mito da democracia racial”, o Racismo se estruturou nas mais diversas instituições brasileiras, assim, podemos dizer que há uma “permissão” para que as pessoas sejam vítimas dos mais variados tipos de violência, por que negros e pobres são tidos como incapazes ou menos merecedores da vida. Muitas vezes somos usados e usadas como massa de manobra para justificar a manutenção das classes sociais e para mostra o lado do “bem e do mal” na sociedade.
         Mas também precisamos mencionar aqui, que é visível que nos últimos vinte anos temos avançado na luta contra o Racismo e na conquista de direitos, como por exemplo a promulgação do Estatuto da Igualdade Racial, a Lei 10.639 de 2003, que torna obrigatório o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas; a Lei de Cotas para negros nas universidades, o que tem permitido um grande contingente de negros e negras entrarem no ensino superior; temos a diversificação dos movimentos negros no Brasil, como o Movimento de Mulheres Negras, o Movimento de Jovens Negros das periferias das cidades, que através da arte, da música vem levantando suas bandeiras; o debate sobre essas questões também tem estado presente nos meios de comunicação e entretenimento, como filmes, novelas, jornais, e nas chamadas mídias sociais.
         Mesmo perante um “cenário favorável” á nossas causas e lutas, ainda temos um longo caminho a percorrer, por que a todo momento somos ameaçados de alguma maneira, principalmente no contexto atual do Brasil. Nossa luta é por dignidade humana, é pela vida, por que no Brasil o Racismo está arraigado no imaginário social como algo natural, disfarçado de “boas intenções”.
         Por aqui vou terminando minha fala, mas não a minha luta, que é diária, que é difícil, mas que vale apena. Para muitos essa é apenas a voz de mais uma negra com complexo de racismo, uma negra que deveria se calar para não afetar a harmonia social e para não incomodar o status quo da sociedade brasileira.

Deixo como dica para aprofundar mais essas questões a fala do jornalista Carlos Medeiros, sobre Raça e Racismo no Brasil, no Programa Café Filosófico.

Por Ana Paula de Lima