quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Griots: Testemunhas do Passado, Cantores do Presente e Mensageiros do Futuro

Contações de histórias.
Google Imagens, 2016.

          Hoje o Blog Afros vem trazendo para vocês, leitores, um tema por algumas pessoas desconhecido, mas quem tem ou teve acesso a história de alguns povos africanos, deve em algum momento ter visto falar sobre os Griots. Esses personagens tão significativos e importantes para a construção, divulgação e perpetuação das histórias, dos versos e das canções de algumas sociedades do Continente Africano.
         Um Griot é antes de tudo um guardião da tradição oral de seu povo, um verdadeiro especialista em genealogia e na história da sua sociedade. Se configura como um personagem de extrema importância para a estrutura social de muitos países da África.
      Segundo estudos os Griots passam a ser altamente reconhecidos no Império do Mali por volta do século XIII, se fazendo presente desde então em muitos povos da África como os Fula, Songhai,  Mande, espalhados desde a Mauritânia até a Guiné ou Níger mais ao Sul. No passado eram contratados por príncipes e reis para, nas cerimônias sociais da corte, enaltecerem suas qualidades e feitos. Gozavam de grande prestígio nas sociedades tradicionais africanas devido ao papel social de guardião das memórias de seu povo. Em função de suas capacidades musicais e poéticas eram bem recompensados.

Cena do Filme Kiriku e a Feiticeira.
Google Imagens
          Os Griots foram e são indivíduos responsáveis por preservar e transmitir os fatos históricos, os conhecimentos e as canções de seus povos, existem aqueles que são apenas músicos ou contadores de histórias e existem aqueles que são os dois ao mesmo tempo. Eles armazenam séculos e séculos de lendas, crenças, costumes e lições de vida, recorrendo a memorização, desta maneira, empregam o poder da palavra, que para os povos africanos, distintos em sua culturas, possam garantir a  preservação dos ensinamentos através das gerações. Eles também atribuem a palavra e a quem dela faz uso uma energia vital, com a capacidade de criar e transformar o mundo.
          O costume de sentar em baixo de uma árvore ou a o
Griot tocndo Kora.
Google Imagens, 2016.
redor de fogueiras para ouvir histórias, contos e canções perdura até hoje em muitos lugares da África, muitas vezes as narrativas são feitas através de canções, podem também utiliza-se de sátiras ou comentários políticos. Como as histórias são transmitidas de geração em geração um Griot precisa cantá-las sem cometer nenhum erro, e ainda precisa está atento aos acontecimentos presentes como um verdadeiro jornalista, afim de passar adiante os acontecidos. A musicalidade em muitas ocasiões acompanha o ofício dos Griots que usam vários instrumentos em suas performances, os mais comuns são: o Balafon, Kora e Ngani. 


Mulher Griot.
Google Imagens, 2016.
Existem Griots 
mulheres?

Sim, existem mulheres que desempenham o papel de Griot, as quais são chamadas de Griottes, e da mesma forma que os homens desempenham papel fundamental na manutenção das tradições, ancestralidades e contemporaneidade de muitos povos da África. 
         Para se tornar um Griot ou Griottes, geralmente é necessário ter nascido numa família de Griots, dessa forma, o indivíduo, desde seu nascimento, recebe ensinamentos sobre artes e conhecimentos passados pela tradição e também sobre temas da atualidade. Também existem escolas que ensinam como se tornar um Griot através do contato com mestres antigos, e precisam, ainda, estarem sempre viajando para aumentar seus conhecimentos sobre seus povos.
          Abaixo segue uma apresentação de alguns Griots na África, apesar de não ter legenda é perceptível, para quem tem a sensibilidade de apreciar as várias formas de ser e existir o mundo, a singularidade e a importância desses indivíduos para seus povos.

          Para concluir o texto de hoje chamo a atenção para a necessidade de aprendermos sobre as formas de vida e as culturas de povos diferentes, no caso dos vários povos africanos, é importante conhecermos suas histórias em função de que muito das nossas formas de fazer, sentir e pensar tem bases sólidas nessas culturas. De fato, os Griots são verdadeiros escritores sem papel ou pena, guardam em suas memórias, falas e cantos, as lendas, os segredos, as canções e histórias de seu povo, pois um povo sem história é um povo fadado ao esquecimento.
          Na África quando morre um ancião é uma biblioteca que desaparece, isso serve de lição para aprendermos a valorizar nossas ancestralidades e os mais velhos por que neles repousa a sabedoria de épocas que jamais vamos ter acesso. E na contramão das altas tecnologias de armazenamento de informações e comunicações os Griots seguem com seu ofício, mostrando que para algumas sociedades o homem e o dom de usar as palavras como mediação entre o  passado e presente ainda são altamente valorizados, e o futuro assim segue...

Por Ana Paula de Lima
Esp. em História e Cultura Afro-brasileira


Fontes Pesquisadas para a construção do Texto:


Nenhum comentário:

Postar um comentário