sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Dica de Documentário: A Intolerância Religiosa Contra as Religiões de Matrizes Africanas


        Boa tarde a todas e a todos os leitores do Blog Afros... Hoje trazemos para vocês uma dica de Documentário produzido pela ONU  Brasil,  mostra aspectos da Intolerância Religiosa que sofrem as religiões de Matrizes Africanas no Brasil. Vale apena conferir pois o mesmo traz discussões interessantes sobre a temática e a necessidade de discuti-las em todos os ambiente de convivência humana.
      Esse vídeo também é para refletirmos nossas posturas e atitudes frente a diversidade religiosa que nosso país possui. Dia 21 de janeiro comemoramos o dia da Intolerância Religiosa, em todo Brasil diversas crenças se uniram para lutar contra esse veneno social, que infelizmente instiga atos de extrema violência e mortes.
         A palavra de ordem hoje que o Blog Afros traz é: se permita. Se permita a conhecer e aceitar o outro da forma que ele escolheu ser, sua verdade não é única, nem absoluta, existem outras formas de ver o mundo, e você precisa compreender isso.
       Se reinvente, mude... Religião precisa transbordar amor. E você precisa, como dizia Gandhi, "Ser a mudança que quer ver no mundo".


Por Ana Paula de Lima

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Griots: Testemunhas do Passado, Cantores do Presente e Mensageiros do Futuro

Contações de histórias.
Google Imagens, 2016.

          Hoje o Blog Afros vem trazendo para vocês, leitores, um tema por algumas pessoas desconhecido, mas quem tem ou teve acesso a história de alguns povos africanos, deve em algum momento ter visto falar sobre os Griots. Esses personagens tão significativos e importantes para a construção, divulgação e perpetuação das histórias, dos versos e das canções de algumas sociedades do Continente Africano.
         Um Griot é antes de tudo um guardião da tradição oral de seu povo, um verdadeiro especialista em genealogia e na história da sua sociedade. Se configura como um personagem de extrema importância para a estrutura social de muitos países da África.
      Segundo estudos os Griots passam a ser altamente reconhecidos no Império do Mali por volta do século XIII, se fazendo presente desde então em muitos povos da África como os Fula, Songhai,  Mande, espalhados desde a Mauritânia até a Guiné ou Níger mais ao Sul. No passado eram contratados por príncipes e reis para, nas cerimônias sociais da corte, enaltecerem suas qualidades e feitos. Gozavam de grande prestígio nas sociedades tradicionais africanas devido ao papel social de guardião das memórias de seu povo. Em função de suas capacidades musicais e poéticas eram bem recompensados.

Cena do Filme Kiriku e a Feiticeira.
Google Imagens
          Os Griots foram e são indivíduos responsáveis por preservar e transmitir os fatos históricos, os conhecimentos e as canções de seus povos, existem aqueles que são apenas músicos ou contadores de histórias e existem aqueles que são os dois ao mesmo tempo. Eles armazenam séculos e séculos de lendas, crenças, costumes e lições de vida, recorrendo a memorização, desta maneira, empregam o poder da palavra, que para os povos africanos, distintos em sua culturas, possam garantir a  preservação dos ensinamentos através das gerações. Eles também atribuem a palavra e a quem dela faz uso uma energia vital, com a capacidade de criar e transformar o mundo.
          O costume de sentar em baixo de uma árvore ou a o
Griot tocndo Kora.
Google Imagens, 2016.
redor de fogueiras para ouvir histórias, contos e canções perdura até hoje em muitos lugares da África, muitas vezes as narrativas são feitas através de canções, podem também utiliza-se de sátiras ou comentários políticos. Como as histórias são transmitidas de geração em geração um Griot precisa cantá-las sem cometer nenhum erro, e ainda precisa está atento aos acontecimentos presentes como um verdadeiro jornalista, afim de passar adiante os acontecidos. A musicalidade em muitas ocasiões acompanha o ofício dos Griots que usam vários instrumentos em suas performances, os mais comuns são: o Balafon, Kora e Ngani. 


Mulher Griot.
Google Imagens, 2016.
Existem Griots 
mulheres?

Sim, existem mulheres que desempenham o papel de Griot, as quais são chamadas de Griottes, e da mesma forma que os homens desempenham papel fundamental na manutenção das tradições, ancestralidades e contemporaneidade de muitos povos da África. 
         Para se tornar um Griot ou Griottes, geralmente é necessário ter nascido numa família de Griots, dessa forma, o indivíduo, desde seu nascimento, recebe ensinamentos sobre artes e conhecimentos passados pela tradição e também sobre temas da atualidade. Também existem escolas que ensinam como se tornar um Griot através do contato com mestres antigos, e precisam, ainda, estarem sempre viajando para aumentar seus conhecimentos sobre seus povos.
          Abaixo segue uma apresentação de alguns Griots na África, apesar de não ter legenda é perceptível, para quem tem a sensibilidade de apreciar as várias formas de ser e existir o mundo, a singularidade e a importância desses indivíduos para seus povos.

          Para concluir o texto de hoje chamo a atenção para a necessidade de aprendermos sobre as formas de vida e as culturas de povos diferentes, no caso dos vários povos africanos, é importante conhecermos suas histórias em função de que muito das nossas formas de fazer, sentir e pensar tem bases sólidas nessas culturas. De fato, os Griots são verdadeiros escritores sem papel ou pena, guardam em suas memórias, falas e cantos, as lendas, os segredos, as canções e histórias de seu povo, pois um povo sem história é um povo fadado ao esquecimento.
          Na África quando morre um ancião é uma biblioteca que desaparece, isso serve de lição para aprendermos a valorizar nossas ancestralidades e os mais velhos por que neles repousa a sabedoria de épocas que jamais vamos ter acesso. E na contramão das altas tecnologias de armazenamento de informações e comunicações os Griots seguem com seu ofício, mostrando que para algumas sociedades o homem e o dom de usar as palavras como mediação entre o  passado e presente ainda são altamente valorizados, e o futuro assim segue...

Por Ana Paula de Lima
Esp. em História e Cultura Afro-brasileira


Fontes Pesquisadas para a construção do Texto:


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Auta de Souza: Mulher, Negra, Potiguar

Auta de Souza 1876-1901.
Google Imagens, 2016.
          Falar sobre Auta de Souza é percorrer os caminhos da sensibilidade da alma feminina, de uma mulher que transcendeu as barreiras de seu tempo e cravou em seus versos o seu olhar sobre o mundo, o sertão, sobre Auta de Souza.
        Nasceu em 12 de Setembro de 1876 na cidade de Macaíba, na época uma cidade de expressiva participação política no Estado do Rio Grande do Norte, ficou órfã aos 06 anos de idade e mudou-se para o Recife, onde aprendeu a ler e a escrever. Esse período foi importante pelo contado na capital pernambucana com outros poetas e escritores que estavam inseridos em movimentos literários no Brasil.
          A obra de Auta de Souza é profundamente marcada por cinco fatores: a religiosidade, a orfandade, a trágica morte de uns de seus irmãos, uma amor não vivido e a tuberculose que ceifou sua vida aos 25 anos, em 1901, em Natal - RN.
          Auta apesar das limitações de sua saúde e do machismo que até hoje impede as mulheres de ocupar determinados espaços, não sentiu-se intimidada e desafiando seu tempo colocou nas palavras de seus versos poéticos a mística de uma alma romântica e de uma mulher forte.
       Considerada por Câmara Cascudo como a "maior poetisa mística do Brasil" escrevia seus poemas em tons apreciavelmente românticos com alto valor estético e fortes influencias simbolistas. Frequentou em Pernambuco o Clube do Biscoito, uma associação de amigos e amantes das letras onde se deleitavam com recitações de poemas, e nesse momento de sua vida passou a ter contato com grandes nomes da literatura brasileira como Castro Alves, Junqueira Freire, Gonçalves Dias, entre outros.
          De fato Auta de Souza é uma das mais ilustres poetisa, se não a maior, do Rio Grande do Norte. De sua autoria temos o Livro Horto publicado em 1900, tendo o prefácio escrito pelo saudoso Olavo Bilac, sendo reeditado em Paris, em 1910, com ilustrações artística de D. Widhopff.


Livro Horto de Auta de Souza.
Google Imagens, 2016.
        Horto se constitui da história de uma grande dor transformada em versos, obra em que Auta rompe com as barreiras da escrita feminina impostas pela sua época. Sua poesia é dotada de um lirismo permeado de pureza marcando seu estilo próprio, onde ela mistura elementos religiosos com leves e ao mesmo tempo forte teor romântico.
        Eis que segue um trecho de uns dos seus poemas no livro Horto:

        
TUDO PASSA 
              I 
Aquela moça graciosa e bela 
Que passa sempre de vestido escuro
 E traz nos lábios um sorriso puro,
 Triste e formoso como os olhos dela...
 (...).
          Assim são os versos de Auta de Souza, profundos, singelos que marcam as formas, os encantos e desencantos com os quais ela ver e entende o mundo a sua volta.
            Abaixo temos um vídeo produzido pelo Canal Futura em parceria com o Projeto a Cor da Cultura do Ministério da Educação e o Ministério da Cultura, sobre os "Heróis de Todo Mundo" em que atores interpretam e contam um pouca da vida de personalidades negras, que transpuseram as barreiras sociais do seu tempo, e são extremamente importantes para a História e Cultura Brasileira. O vídeo traz a atriz Thaís Araújo no papel de Auta de Souza, uma Cidadã Negra, Brasiliera.


          
           Hoje o Blog Afros trouxe alguns elementos da vida e da história de Auta de Souza, que ainda é pouco conhecida no Brasil e em especial no Rio Grande do Norte, que traz em sua vida as marcas de uma mulher negra, forte que deixou em seus versos as lamúrias e impressões de sua existência e seu entendimento sobre o mundo e a vida.


Por Ana Paula de Lima
Esp. em História e Cultura Afro-brasileira.

Confira o Livro Horto de Auta de Souza:
Baixe o Livro Horto

Fontes de Pesquisa para a Construção do Texto.
Passei na Web: http://www.passeiweb.com/estudos/livros/horto
Jornal da Poesia: http://www.jornaldepoesia.jor.br/asouza01b.html
Vídeos do Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=p5LCoeyxtlo
Concafras - PE: http://www.concafras.com/concafras/index.php/bio-auta-de-souza


quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

2016 o ano de Oxalá e Yemanjá: Que o Senhor do Pano Branco e a Rainha do Mar nos leve a trilhar os caminhos do amor e da paz

         
Oxalá e Yemanjá, Orixás regentes de 2016.
Google Imagens, 2016.
 Epa epa Babá Oxalá! Odoyá Yemanjá... Inicio este texto saudando aos Orixás que vem reger o ano de 2016, Oxalá e Yemanjá, em sinal de reverência e respeito pelas crenças religiosas afro-brasileiras, e também para enunciar o tema que se discorrerá aqui.
    Quero inicialmente pedir desculpas aos leitores deste Blog pela ausência de publicações, em função de outras lutas passamos uns meses sem nos debruçarmos sobre as temáticas afros que permeiam nossas sociedades pelo mundo afora. Mas quero ressaltar que cada pessoa que disponibiliza um espaço do seu tempo para ler as postagens que aqui são publicadas é infinitamente importante para a construção do Projeto Afros que é justamente a divulgação de temas que se referem as questões negras nesse país, na África e em outros lugares desse nosso imenso mundão... Então a você, leitor, meus sinceros agradecimentos por tornar esse sonho possível, espero contar com você nesse e em muitos outros anos.
          Bom, vamos continuar... O ano de 2016 será um ano daquele que carrega o mundo nas mãos ao lado do seu cajado, é o Senhor do Pano Branco, o Criador da Humanidade, e pela Rainha dos Mares Yemanjá, assim teremos um ano de bases equilibradas, um ano para repensar nossas atitudes e valores, assim como nossas relações com as pessoas e com a nossa família, na busca de amar o próximo compreendendo seus defeitos e saudando suas qualidades, percebendo a bondade que existe em todos nós.
          Oxalá vem representar a experiência de vida e a busca da humanidade pela sabedoria pautada na verdade e na luz que vem iluminar o mundo na busca pela paz.

Oxalá (Oxalufan) e seu Cajado
Google Imagens, 2016
          Oxalá é o detentor do poder procriador masculino, todas as suas representações incluem o branco. No Aiyê (terra) e no Orum (céu ou mundo espiritual) ele é o elemento fundamental a formação de todos os tipos de criaturas. Ao incorporar-se assume duas formas: Oxaguiãn (Jovem Guerreiro) e oxalufã (velho apoiados num bastão de prata - Apaxorô). Oxalá é um orixá avesso a qualquer tipo de violência ou caos, ele gosta da pureza, da limpeza e da ordem, sua cor é branca e seu dia é a sexta-feira.

Oxaguiãn, o jovem guerreiro.
Google Imagens, 2016.
   Na África os orixás relacionados a criação são muitos e chamados de Fun Fun, o mais importante é Orixalá (Òrisalà), o grande orixá Obatalá, o rei do pano branco, cultuado nas terras de Igbó e Ifé. No Brasil as expressões mais conhecidas são as já mencionadas (o jovem guerreiro e o velho do bastão).

    Todos as histórias que mencionam a criação do mundo passam necessariamente por Oxalá, o primeiro orixá concebido por Oludumaré (ser supremo para os Yorubás) para criar o universo e todos os seres e coisas a existir no  mundo.
     No Xirê Oxalá e homenageado por último como símbolo de sintetização de todas as origens. Assim como Exú, Oxalá reside em todos os seres humanos, dessa forma, todos são seus filhos e todos somos irmãos, visto que a humanidade vive sob o mesmo teto.

Yemanjá, Rainha do Mar
Google Imgens, 2016.
         O outro Orixá que irá reger o ano de 2016 é bem conhecido de nós brasileiros, que é Yamanjá, Rainha dos Mares. De acordo com a tradição Yorubá ela é tida como a mãe de todos os orixás, é a protetora dos jangadeiros e pescadores. Sua cor é cristal, mas conhecemos mais pela representação do azul.
             Yemanjá é a geradora do sentimento de amor, de família, ela rege nossos lares e casas, é o símbolo de união por laços consanguíneos ou não. É a deusa da Egbé nação yorubá onde existe o rio Yemonjá (Yemanjá). Uma de suas festas mais conhecidas se dá no dia 02 de fevereiro em Salvador, BA, onde seus devotos se reúnem para lhe dar oferendas, flores, jóias, perfumes, entre outras.


Yemanjá
Google Imagens, 2016.
           Neste ano de 2016 Yemanjá irá trazer um pouco de nostalgia perto do fim do ano, porém trará um pequeno ciclo de águas, como todo ano de Oxalá, terminaremos com  muitas chuvas. E também será um ano que ela nos incitará a ter mais amor pela família, a ter mais bondade no coração e confiança nos nossos semelhantes.
           Assim termino o texto pedido a Oxalá e a Yemanjá um ano de paz para o mundo, que o ser humano encontre os caminhos que nos leve a uma humanidade realmente humana, que possamos aprender a ver o outro como uma extensão do nosso amor e toda nossa consideração. Que nossas crenças não dos separe, não nos diminua, mas que possamos juntos construir um mundo melhor para todos, sem violência, sem discriminação, sem racismo... Que possamos juntos com as bênçãos de Oxalá e Yemanjá trilhar e lutar pacificamente pela Paz.

Epa epa Babá Oxalá! Odoyá Yemanjá!


Por Ana Paula de Lima
Especialista em História e Cultura Afro-brasileira.

Observação: Existem muitas outras histórias sobre Oxalá e Yemanjá, mas aqui sintetizei apenas algumas informações.

Fontes de Pesquisa:
Blog Luz Divina: http://luzdivinaespiritual.blogspot.com.br/2015/11/oxala-o-orixa-regente-de-2016.html;
Candomblé, O Mundo dos Orixás: https://ocandomble.wordpress.com/os-orixas/oxala/.
Luz de Umbanda: http://umbandayorima.blogspot.com.br/2014/02/saudacao-mae-iemanja.html