A dica de leitura de hoje do Blog Afros, é o primeiro número dos "Cadernos Diálogos Africanos," que tem como objetivo disseminar estudos e análises, além de incitar o debate sobre a África e suas relações com o Brasil. Esse é um projeto do Instituto Lula, com iniciativa da África.
A dinâmica das sociedades
contemporâneas nos colocaram em situações em que precisamos nos questionar
diariamente sobre o valor das diferenças, tendo em vista, que a globalização
nos tornou sujeitos de participação, ativa ou passiva, das decisões ou lutas
por melhores condições de vida, por direitos, por respeito e por aceitação,
dentro de uma perspectiva que leva em conta as diversidades sociais e culturais
humanas.
Nas
palavras que seguem, vamos nos ater a um fenômeno social, que se encontra
enraizado na sociedade brasileira desde que os europeus pisaram nessas terras,
há cerca de quinhentos anos, o Racismo, e os desafios que temos no debate e na
concretização de políticas de Ação Afirmativa, que buscam inserir negros e
negras no seio da construção de um país democrático, em que a igualdade de
direitos e oportunidades sejam para todos, independentemente das nossas
diversidades.
Diante
disso, precisamos nos questionar sobre o que é ser negro no Brasil. Essa é uma
daquelas perguntas que exige de cada um de nós uma profunda reflexão sobre o
que é o Brasil, e toda sua conjuntura social, política e cultural, e claro,
realizar uma análise sobre a política de expansão europeia a parti do século XV
em diante, e sobre o processo devastador e desumano, aos quais foram submetidos
a população de muitos países africanos.
Ser
negro no Brasil, ainda é desafiar a própria condição de ser, é carregar nos
ombros a moléstia da exclusão social e racial, estruturadas sob a máscara do
Racismo, que se mostra, em faces sutis e deliberadas, o quanto é perversa,
maquiavélica e assassina. A partir de seu julgo há o que podemos chamar de os “selecionados
para o banquete dos direitos, da oportunidade e da liberdade”; existe o emprego
para o rico e um para negros e pobres, os restaurantes, o acesso aos bens de consumo,
aos cursos universitários, e tantas outras coisas.
Para
os setores conservadores da sociedade brasileira, que tentam a todo custo
mascarar as consequencias dessa perversidade social, não existe Racismo; o
Brasil é o que podemos chamar de paraíso da “democracia racial” (aqui quando me
refiro a raça, estou levando em consideração os aspectos culturais e ao fenótipo),
onde brancos, negros, índios e pobres, tem as mesmas condições e oportunidades para
frequentar escolas de “alta qualidade”, os bancos das universidades, se
elegerem para cargos públicos. Isso é discurso demagogo, racista e
preconceituoso de pessoas que acreditam que brancos e ricos são superiores, que
a vida de mulheres, homens, jovens e crianças negras valem bem menos, ou quase
nada.
Para
dar mais força e credibilidade ao “mito da democracia racial”, o Racismo se
estruturou nas mais diversas instituições brasileiras, assim, podemos dizer que
há uma “permissão” para que as pessoas sejam vítimas dos mais variados tipos de
violência, por que negros e pobres são tidos como incapazes ou menos
merecedores da vida. Muitas vezes somos usados e usadas como massa de manobra
para justificar a manutenção das classes sociais e para mostra o lado do “bem e
do mal” na sociedade.
Mas
também precisamos mencionar aqui, que é visível que nos últimos vinte anos
temos avançado na luta contra o Racismo e na conquista de direitos, como por
exemplo a promulgação do Estatuto da Igualdade Racial, a Lei 10.639 de 2003,
que torna obrigatório o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira
nas escolas; a Lei de Cotas para negros nas universidades, o que tem permitido
um grande contingente de negros e negras entrarem no ensino superior; temos a
diversificação dos movimentos negros no Brasil, como o Movimento de Mulheres
Negras, o Movimento de Jovens Negros das periferias das cidades, que através da
arte, da música vem levantando suas bandeiras; o debate sobre essas questões
também tem estado presente nos meios de comunicação e entretenimento, como
filmes, novelas, jornais, e nas chamadas mídias sociais.
Mesmo
perante um “cenário favorável” á nossas causas e lutas, ainda temos um longo
caminho a percorrer, por que a todo momento somos ameaçados de alguma maneira,
principalmente no contexto atual do Brasil. Nossa luta é por dignidade humana,
é pela vida, por que no Brasil o Racismo está arraigado no imaginário social
como algo natural, disfarçado de “boas intenções”.
Por
aqui vou terminando minha fala, mas não a minha luta, que é diária, que é
difícil, mas que vale apena. Para muitos essa é apenas a voz de mais uma negra
com complexo de racismo, uma negra que deveria se calar para não afetar a
harmonia social e para não incomodar o status quo da sociedade brasileira.
Deixo como dica para aprofundar mais essas questões a fala do jornalista Carlos Medeiros, sobre Raça e Racismo no Brasil, no Programa Café Filosófico.
Boa noite a todos e a todas, hoje o Blog Afros traz como dica o documentário "Pele Negra, Máscara Branca, que teve estreia em 2006, e se mostra uma oportunidade de adentrar no fenômeno social conhecido como "branqueamento."
Do diretor Conrado Krainer o documentário, baseado no livro de mesmo nome de Frantz Fanon, mostra o branqueamento sob duas perspectivas: acadêmica, com comentários do Professor Kabenguele Munanga, e concreta a partir dos depoimentos de várias pessoas que passaram e passam pelas consequências extremamente nocivas do racismo.
Confira abaixo o documentário, e vamos levar para nossos espaços de atuação essas discussões que afetam social e psicologicamente toda sociedade brasileira.
Atlântico Negro - Na Rota dos Orixás Google Imagens, 2016
O documentário "Atlântico Negro - Na Rota dos Orixás", produzido em 1998 por Renato Barbieri e pelo historiador Victor Leonardi, traz em sua sonoridade e imagens a riqueza cultural africana e afro-brasileira, no que tange, principalmente, a religiosidade, assim como também, a importância desse continente para a construção da sociedade brasileira.
Um dos pontos chaves do filme é a desconstrução das visões etnocêntricas e preconceituosas que temos em reação ao continente africano, como um lugar atrasado no tempo e no espaço, permeado de mazelas sociais, sem vida, sem história, mostrando seu lado cultural que deu origem ao Candomblé na Bahia, ao Xangô em Pernambuco, ao Tambor de Minas no Maranhão, e a tantas outras religiões afro-brasileiras que trazem consigo as tradições dos lugares situados do outro lado do Atlântico.
Desconstruir essas imagens negativas da África e tecer outros olhares sobre suas sociedades nos auxilia a compreender a nossa própria história, tanto no que se refere aos hábitos sociais, quanto aos costumes oriundos desse continente.
O documentário traz personagens com Pai Euclides, Sacerdote da Casa Fanti Ashanti em São Luís no Maranhão, que inicia a narrativa enviando uma mensagem para Vodunon Avimanjá-Non, chede do Templo de Avimange, em Oidá, em Benin, de onde vieram, para o Brasil, muitos homens, mulheres e crianças durante mais de três séculos de escravidão negra, carregando em seus corações e memórias suas formas de pensar, sentir e fazer, ou seja, suas identidades sociais, culturais e religiosas.
O documentário se mostra uma ótima oportunidade para professores, estudantes, pesquisadores e demais interessados em conhecer mais sobre as relações, mais que intrínsecas, entre África e Brasil, e o que resulta do encontro entre sociedades separadas por um oceano, e aproximadas pelas vivências, pela ancestralidade e pela riqueza cultural e social transportadas nos porões imundos dos navios negreiros, que saíam da África com destino ao Brasil, e para outros países da América.
Confira o documentário "Atlântico Negro- Na Rota dos Orixás:
Vamos ampliar os horizontes, compreender a nossa história, a nossas tantas histórias, e aceitar a nossa ancestralidade africana que pulsa em nossa cultura, em nossos costumes, em nossas religiões.
Capa do Livro "Onda Negra Medo Branco"
Google Imagens, 2016
Livro de Célia Maria Marinho de Azevedo, "Onda Negra, Medo Branco, o negro no imaginário das elites do século XIX, traz discussões interessantes que nos auxiliam a pensar e refletir quais as representações dos negros no século XIX a partir de um olhar da elite brasileira.
A obra se estrutura a partir de duas questões bases: 1° O que fazer com os negros quando a escravidão chegar ao fim? e 2° Como impedir um final brusco da escravidão, deixando a solta e sem nenhuma regra uma imensa população de negros e mestiços pobres em um país regido por uma minoria de ricos proprietários brancos?
O livro é dividido em quatro capítulos:
1° Em busca de um povo (Projetos emancipatórios Projetos Imigrantistas; e Projetos Abolicionistas);
2° Os Políticos e a "Onda Negra" (A batalha contra o tráfico; O nacional livre em debate; O sentido racista do imigrantismo; O grande avanço imigrantista; e O imigrantista consolidado);
3° O "Não Quero" dos Escravos (Crime de escravos; Revoltas, fugas e apoio popular; e A pátria em perigo! Pela união Nacional!); e,
4° Abolicionismo e Controle Social (A defesa da ordem; Denúncia de racismo; e Integração e cidadania).
Poster de Divulgação do Documentário
'Tradição do Bará do Mercado
Google Imagens, 2016.
O Documentário "A Tradição do Bará do Mercado" lançado em 2007, traz o relato de sete religiosos de matriz africana, abordando o fundamento afro religioso conhecido como "Bará do Mercado Público", o qual nos leva a conhecer as experiências urbanas desses personagens negros na cidade de Porto Alegre.
O documentário tem a direção da Antropóloga Ana Luiza Carvalho da Rocha que integra, juntamente, com Cornelia Ecket o Banco de Imagens e Efeitos visuais do Programa de Pós Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O documentário traz como entrevistados: Adãozinho do Bará, Mãe Norinha de Oxalá, Mestre Borel,Mãe Maria de Oxum, Mãe Angélica de Oxum, Pai Nilson de Oxum, Babadiba de Iemanjá, que integram a Congregação em Defesa das Religiões Afro-brasileiras - CEDRAD, fundada em 2004 por Mãe Norinha de Oxalá.
Buscado tornar mais conhecida uma antiga tradição manifestada através das práticas e ritos afro-brasileiros, o documentário constrói uma narrativa que nos leva a um passeio pelo tempo e pelas transformações da cidade de Porto Alegre, sob a perspectiva dos negros.
Confira o documentário:
"Conforme a tradição, no centro do Mercado, no meio da encruzilhada que o funda está "sentado" o orixá Bará - entidade responsável pela abertura dos caminhos e pela fartura. Uma tradição que remonta o Mercado como um espaço de reconhecimento e reivindicação da população afro-descendente e da cultura negra da cidade de Porto Alegre." (Filmow. com).
Cena de Candomblé, Wilson Tibério
Google Imagens, 2016
Em janeiro de 2003, os movimentos sociais negros, e a sociedade brasileira, alcançaram uma vitória extremamente significativa com a promulgação da lei 10.639 que tornou obrigatório o ensino da história e da cultura africana e afro-brasileira, como tema transversal, nos currículos das escolas (de ensino oficial) públicas e privadas de todo o país. Com a vitória, também vieram os desafios, que ainda hoje permanecem presentes nos espaços escolares e sociais, se mostrando como empecilhos para uma educação democrática e inclusiva que valorize as relações étnicas raciais. Entre os desafios podemos citar: a ausência de formação para os professores trabalharem essas temáticas em suas salas de aulas, os conflitos sociais e ideológicos que rondam aspectos da cultura afro-brasileira, como é o caso da religiosidade e o próprio racismo. Se faz necessário mencionar que a educação no Brasil nunca foi de fato democratizada, assim, parcelas significativas da população, por motivos econômicos, sociais ou raciais, foram impedidas de se fazerem presentes nas escolas, também sendo negada a inclusão de suas histórias e identidades coletivas nos currículos escolares. Neste entremeio o negro, suas identidades e histórias sempre se mantiveram longe da escola, e da educação formal. Isso é perceptível diante das muitas reformas educacionais realizadas no país, em que essa nunca foi de fato uma prioridade, perante essas realidades de descasos os movimentos negros levantaram suas bandeiras de lutas por uma educação democrática e inclusiva, em que homens e mulheres, negros e negras fossem retratados de maneira justa, e não representadas pelos estereótipos da escravidão, da pobreza e da marginalidade.
Pintura Candomblé de João Alves. Google Imagens, 2016.
Quando entramos no campo das religiões de matrizes africanas os desafios ainda são muito maiores, em função das concepções deturpadas que foram sendo construídas sobre as mesmas ao longo do tempo em nosso país. É a "macumba", é o "xangozeiro", o "macumbeiro", entre outras denominações, que imperam nas escolas, sendo este um espaço que deveria primar pelo respeito as todas as crenças e credos, afinal, somos um país laico, e consequentemente as instituições públicas e privadas devem construir espaços de valorização e respeito por todas as religiões. Para compreender mais a fundo o porquê de as escolas ainda serem tão intolerantes com relação as religiões de matrizes africanas como o Candomblé, a Umbanda, o Batuque, entre outras, é necessário fazer uma viagem pelo próprio imaginário religioso brasileiro, e nesse sentido, perceber que desde que os povos oriundos da África vieram para o Brasil, através dos processos de escravidão, tiveram seus ritos e suas culturas subalternizadas, em contraposição a religião do europeu. Sendo construídas desde então versões e aversões sobre essas religiões, e mesmo depois de séculos de perseguição, de violência e muitas mortes, em pleno século XXI, as representações que se tem das religiões afro-brasileiras ainda são permeadas desses estereótipos. Mas, é justamente no seio dessas relações que as escolas precisam atuar para desconstruir esses imaginários. É visível que a falta de preparo dos professores e a própria cultura escolar acabam por minar mais ainda os campos das relações sociais religiosas entre os alunos, vezes por outras nos deparamos com reportagens que mostram como nossa educação ainda é intolerante. Existem alguns materiais didáticos e paradidáticos que trazem e apresentam as religiões afro-brasileiras para as escolas, como exemplo podemos citar: “O Negro no Brasil de hoje’, um paradidático que traz expressões culturais, históricas e religiosas como o Candomblé, a Umbanda e a Congada, também tem o livro África e Brasil Africano de Marina de Mello e Souza, que traz uma abordagem semelhante a anterior. Também é interessante mencionar aqui o Projeto “A Cor da Cultura” que tem como objetivo divulgar a história e cultura afro-brasileira e africana, trazendo uma abordagem simples e profunda em suas reflexões.
Livro África e Brasil Africano Google Imagens, 2016.
Livro o Negro no Brasil de Hoje Google Imagens, 2016.
Logo do Projeto a Cor da Cultura Google Imagens, 2016.
Mas a realidade é bem controversa, existe muita resistência por parte dos professores e das próprias coordenações pedagógicas em introduzir nas aulas de forma transversal as religiões de matriz africana, é claro, que pesa também a própria formação desses professores, que não lhes ofereceu os aportes teóricos e práticos necessários para trabalhar essas questões de maneira respeitosa, desmitificando a demonização dessas expressões religiosas.
Diante das questões expostas até aqui, primeiro é preciso compreender que os terreiros estão nas escolas, mesmo que seja de maneira totalmente deturpada, maldosa e estereotipada, nossos orixás, nossos mestres, estão lá, em muitos casos, nos nossos filhos de santos que precisam esconder a sua fé, ou conviver com a violência e a intolerância que ainda impera nesses espaços. O ponto chave que toda a estrutura escolar precisa entender é que nossas escolas são plurais, que nossas crenças são diversas, que nosso povo tem o direito de manifestar a sua fé seja ela qual for, afinal nosso país é laico. Sabemos que o caminho é longo e cheio de pedras e empecilhos, mas nossos ancestrais conseguiram transmitir tanta sabedoria ao longo dos séculos como a sonoridade de nossos atabaques, a divindade de nossos orixás, as histórias de tantas partes da África, e a perseverança nos tempos adversos para passar para outras gerações todas essas premissas, então nossa luta continua: por uma sociedade mais justa, por escolas democráticas e laicas, e pela formação de indivíduos mais humanos.
Boa noite a todos e a todas, queridos e estimados leitores deste Blog. Hoje estamos trazendo para vocês o documentário "Mulheres de Axé: vozes contra a intolerância", que traz a história de mulheres religiosas do candomblé que se configuram como vozes ativas na luta contra a intolerância religiosa.
De acordo com a Produção do filme: “O documentário traz depoimentos que situam o público no debate sobre a intolerância, mesclando com as histórias de vida de personalidades que empenham esta luta em seu dia-a-dia e abordando o significado do dia 21 de janeiro, as dificuldades enfrentadas em suas vidas pessoais por serem do Candomblé, suas experiências vividas com empreendedorismo como mecanismo de sobrevivência”.
O documentário conta ainda com depoimentos da professora Vanda Machado, egbomi do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, Rita Santos presidente da Associação das Baianas do Acarajé (ABAM), Egbomy Nice, do Terreiro da Casa Branca, a ialorixá do Gantois, Mãe Carmen e a empreendedora Alaíde do Feijão. A trilha sonora é da cantora Marcia Short.
Esse documentário é resultado de uma parceria do Coletivo de Entidades Negras (CEN), responsável pela organização, e do Governo da Bahia, por meio das Secretarias Estaduais de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), da Casa Civil e de Políticas Públicas para Mulheres (SPM), além da ONG Ação pela Cidadania e da Fundação Cultural Palmares - Minc.
Vale apena conferir essas vozes que carregam consigo a sabedoria da nossa ancestralidade negra, africana e afro-brasileira, além dos anos de lutas por seus direitos e por uma sociedade laica que respeite todas as crenças.
Boa tarde a todas e a todos os leitores do Blog Afros... Hoje trazemos para vocês uma dica de Documentário produzido pela ONU Brasil, mostra aspectos da Intolerância Religiosa que sofrem as religiões de Matrizes Africanas no Brasil. Vale apena conferir pois o mesmo traz discussões interessantes sobre a temática e a necessidade de discuti-las em todos os ambiente de convivência humana.
Esse vídeo também é para refletirmos nossas posturas e atitudes frente a diversidade religiosa que nosso país possui. Dia 21 de janeiro comemoramos o dia da Intolerância Religiosa, em todo Brasil diversas crenças se uniram para lutar contra esse veneno social, que infelizmente instiga atos de extrema violência e mortes.
A palavra de ordem hoje que o Blog Afros traz é: se permita. Se permita a conhecer e aceitar o outro da forma que ele escolheu ser, sua verdade não é única, nem absoluta, existem outras formas de ver o mundo, e você precisa compreender isso.
Se reinvente, mude... Religião precisa transbordar amor. E você precisa, como dizia Gandhi, "Ser a mudança que quer ver no mundo".
Hoje o Blog Afros vem trazendo para vocês, leitores, um tema por algumas pessoas desconhecido, mas quem tem ou teve acesso a história de alguns povos africanos, deve em algum momento ter visto falar sobre os Griots. Esses personagens tão significativos e importantes para a construção, divulgação e perpetuação das histórias, dos versos e das canções de algumas sociedades do Continente Africano.
Um Griot é antes de tudo um guardião da tradição oral de seu povo, um verdadeiro especialista em genealogia e na história da sua sociedade. Se configura como um personagem de extrema importância para a estrutura social de muitos países da África.
Segundo estudos os Griots passam a ser altamente reconhecidos no Império do Mali por volta do século XIII, se fazendo presente desde então em muitos povos da África como os Fula, Songhai, Mande, espalhados desde a Mauritânia até a Guiné ou Níger mais ao Sul. No passado eram contratados por príncipes e reis para, nas cerimônias sociais da corte, enaltecerem suas qualidades e feitos. Gozavam de grande prestígio nas sociedades tradicionais africanas devido ao papel social de guardião das memórias de seu povo. Em função de suas capacidades musicais e poéticas eram bem recompensados.
Cena do Filme Kiriku e a Feiticeira. Google Imagens
Os Griots foram e são indivíduos responsáveis por preservar e transmitir os fatos históricos, os conhecimentos e as canções de seus povos, existem aqueles que são apenas músicos ou contadores de histórias e existem aqueles que são os dois ao mesmo tempo. Eles armazenam séculos e séculos de lendas, crenças, costumes e lições de vida, recorrendo a memorização, desta maneira, empregam o poder da palavra, que para os povos africanos, distintos em sua culturas, possam garantir a preservação dos ensinamentos através das gerações. Eles também atribuem a palavra e a quem dela faz uso uma energia vital, com a capacidade de criar e transformar o mundo.
O costume de sentar em baixo de uma árvore ou a o
Griot tocndo Kora. Google Imagens, 2016.
redor de fogueiras para ouvir histórias, contos e canções perdura até hoje em muitos lugares da África, muitas vezes as narrativas são feitas através de canções, podem também utiliza-se de sátiras ou comentários políticos. Como as histórias são transmitidas de geração em geração um Griot precisa cantá-las sem cometer nenhum erro, e ainda precisa está atento aos acontecimentos presentes como um verdadeiro jornalista, afim de passar adiante os acontecidos. A musicalidade em muitas ocasiões acompanha o ofício dos Griots que usam vários instrumentos em suas performances, os mais comuns são: o Balafon, Kora e Ngani.
Mulher Griot. Google Imagens, 2016.
Existem Griots
mulheres?
Sim, existem mulheres que desempenham o papel de Griot, as quais são chamadas de Griottes, e da mesma forma que os homens desempenham papel fundamental na manutenção das tradições, ancestralidades e contemporaneidade de muitos povos da África. Para se tornar um Griot ou Griottes, geralmente é necessário ter nascido numa família de Griots, dessa forma, o indivíduo, desde seu nascimento, recebe ensinamentos sobre artes e conhecimentos passados pela tradição e também sobre temas da atualidade. Também existem escolas que ensinam como se tornar um Griot através do contato com mestres antigos, e precisam, ainda, estarem sempre viajando para aumentar seus conhecimentos sobre seus povos. Abaixo segue uma apresentação de alguns Griots na África, apesar de não ter legenda é perceptível, para quem tem a sensibilidade de apreciar as várias formas de ser e existir o mundo, a singularidade e a importância desses indivíduos para seus povos.
Para concluir o texto de hoje chamo a atenção para a necessidade de aprendermos sobre as formas de vida e as culturas de povos diferentes, no caso dos vários povos africanos, é importante conhecermos suas histórias em função de que muito das nossas formas de fazer, sentir e pensar tem bases sólidas nessas culturas. De fato, os Griots são verdadeiros escritores sem papel ou pena, guardam em suas memórias, falas e cantos, as lendas, os segredos, as canções e histórias de seu povo, pois um povo sem história é um povo fadado ao esquecimento. Na África quando morre um ancião é uma biblioteca que desaparece, isso serve de lição para aprendermos a valorizar nossas ancestralidades e os mais velhos por que neles repousa a sabedoria de épocas que jamais vamos ter acesso. E na contramão das altas tecnologias de armazenamento de informações e comunicações os Griots seguem com seu ofício, mostrando que para algumas sociedades o homem e o dom de usar as palavras como mediação entre o passado e presente ainda são altamente valorizados, e o futuro assim segue...
Falar sobre Auta de Souza é percorrer os caminhos da sensibilidade da alma feminina, de uma mulher que transcendeu as barreiras de seu tempo e cravou em seus versos o seu olhar sobre o mundo, o sertão, sobre Auta de Souza.
Nasceu em 12 de Setembro de 1876 na cidade de Macaíba, na época uma cidade de expressiva participação política no Estado do Rio Grande do Norte, ficou órfã aos 06 anos de idade e mudou-se para o Recife, onde aprendeu a ler e a escrever. Esse período foi importante pelo contado na capital pernambucana com outros poetas e escritores que estavam inseridos em movimentos literários no Brasil.
A obra de Auta de Souza é profundamente marcada por cinco fatores: a religiosidade, a orfandade, a trágica morte de uns de seus irmãos, uma amor não vivido e a tuberculose que ceifou sua vida aos 25 anos, em 1901, em Natal - RN.
Auta apesar das limitações de sua saúde e do machismo que até hoje impede as mulheres de ocupar determinados espaços, não sentiu-se intimidada e desafiando seu tempo colocou nas palavras de seus versos poéticos a mística de uma alma romântica e de uma mulher forte. Considerada por Câmara Cascudo como a "maior poetisa mística do Brasil" escrevia seus poemas em tons apreciavelmente românticos com alto valor estético e fortes influencias simbolistas. Frequentou em Pernambuco o Clube do Biscoito, uma associação de amigos e amantes das letras onde se deleitavam com recitações de poemas, e nesse momento de sua vida passou a ter contato com grandes nomes da literatura brasileira como Castro Alves, Junqueira Freire, Gonçalves Dias, entre outros. De fato Auta de Souza é uma das mais ilustres poetisa, se não a maior, do Rio Grande do Norte. De sua autoria temos o Livro Horto publicado em 1900, tendo o prefácio escrito pelo saudoso Olavo Bilac, sendo reeditado em Paris, em 1910, com ilustrações artística de D. Widhopff.
Livro Horto de Auta de Souza. Google Imagens, 2016.
Horto se constitui da história de uma grande dor transformada em versos, obra em que Auta rompe com as barreiras da escrita feminina impostas pela sua época. Sua poesia é dotada de um lirismo permeado de pureza marcando seu estilo próprio, onde ela mistura elementos religiosos com leves e ao mesmo tempo forte teor romântico. Eis que segue um trecho de uns dos seus poemas no livro Horto:
TUDO PASSA I Aquela moça graciosa e bela Que passa sempre de vestido escuro E traz nos lábios um sorriso puro, Triste e formoso como os olhos dela... (...). Assim são os versos de Auta de Souza, profundos, singelos que marcam as formas, os encantos e desencantos com os quais ela ver e entende o mundo a sua volta. Abaixo temos um vídeo produzido pelo Canal Futura em parceria com o Projeto a Cor da Cultura do Ministério da Educação e o Ministério da Cultura, sobre os "Heróis de Todo Mundo" em que atores interpretam e contam um pouca da vida de personalidades negras, que transpuseram as barreiras sociais do seu tempo, e são extremamente importantes para a História e Cultura Brasileira. O vídeo traz a atriz Thaís Araújo no papel de Auta de Souza, uma Cidadã Negra, Brasiliera.
Hoje o Blog Afros trouxe alguns elementos da vida e da história de Auta de Souza, que ainda é pouco conhecida no Brasil e em especial no Rio Grande do Norte, que traz em sua vida as marcas de uma mulher negra, forte que deixou em seus versos as lamúrias e impressões de sua existência e seu entendimento sobre o mundo e a vida.
Oxalá e Yemanjá, Orixás regentes de 2016.
Google Imagens, 2016.
Epa epa Babá Oxalá! Odoyá Yemanjá... Inicio este texto saudando aos Orixás que vem reger o ano de 2016, Oxalá e Yemanjá, em sinal de reverência e respeito pelas crenças religiosas afro-brasileiras, e também para enunciar o tema que se discorrerá aqui.
Quero inicialmente pedir desculpas aos leitores deste Blog pela ausência de publicações, em função de outras lutas passamos uns meses sem nos debruçarmos sobre as temáticas afros que permeiam nossas sociedades pelo mundo afora. Mas quero ressaltar que cada pessoa que disponibiliza um espaço do seu tempo para ler as postagens que aqui são publicadas é infinitamente importante para a construção do Projeto Afros que é justamente a divulgação de temas que se referem as questões negras nesse país, na África e em outros lugares desse nosso imenso mundão... Então a você, leitor, meus sinceros agradecimentos por tornar esse sonho possível, espero contar com você nesse e em muitos outros anos.
Bom, vamos continuar... O ano de 2016 será um ano daquele que carrega o mundo nas mãos ao lado do seu cajado, é o Senhor do Pano Branco, o Criador da Humanidade, e pela Rainha dos Mares Yemanjá, assim teremos um ano de bases equilibradas, um ano para repensar nossas atitudes e valores, assim como nossas relações com as pessoas e com a nossa família, na busca de amar o próximo compreendendo seus defeitos e saudando suas qualidades, percebendo a bondade que existe em todos nós.
Oxalá vem representar a experiência de vida e a busca da humanidade pela sabedoria pautada na verdade e na luz que vem iluminar o mundo na busca pela paz.
Oxalá (Oxalufan) e seu Cajado
Google Imagens, 2016
Oxalá é o detentor do poder procriador masculino, todas as suas representações incluem o branco. No Aiyê (terra) e no Orum (céu ou mundo espiritual) ele é o elemento fundamental a formação de todos os tipos de criaturas. Ao incorporar-se assume duas formas: Oxaguiãn (Jovem Guerreiro) e oxalufã (velho apoiados num bastão de prata - Apaxorô). Oxalá é um orixá avesso a qualquer tipo de violência ou caos, ele gosta da pureza, da limpeza e da ordem, sua cor é branca e seu dia é a sexta-feira.
Oxaguiãn, o jovem guerreiro.
Google Imagens, 2016.
Na África os orixás relacionados a criação são muitos e chamados de Fun Fun, o mais importante é Orixalá (Òrisalà), o grande orixá Obatalá, o rei do pano branco, cultuado nas terras de Igbó e Ifé. No Brasil as expressões mais conhecidas são as já mencionadas (o jovem guerreiro e o velho do bastão).
Todos as histórias que mencionam a criação do mundo passam necessariamente por Oxalá, o primeiro orixá concebido por Oludumaré (ser supremo para os Yorubás) para criar o universo e todos os seres e coisas a existir no mundo.
No Xirê Oxalá e homenageado por último como símbolo de sintetização de todas as origens. Assim como Exú, Oxalá reside em todos os seres humanos, dessa forma, todos são seus filhos e todos somos irmãos, visto que a humanidade vive sob o mesmo teto.
Yemanjá, Rainha do Mar
Google Imgens, 2016.
O outro Orixá que irá reger o ano de 2016 é bem conhecido de nós brasileiros, que é Yamanjá, Rainha dos Mares. De acordo com a tradição Yorubá ela é tida como a mãe de todos os orixás, é a protetora dos jangadeiros e pescadores. Sua cor é cristal, mas conhecemos mais pela representação do azul. Yemanjá é a geradora do sentimento de amor, de família, ela rege nossos lares e casas, é o símbolo de união por laços consanguíneos ou não. É a deusa da Egbé nação yorubá onde existe o rio Yemonjá (Yemanjá). Uma de suas festas mais conhecidas se dá no dia 02 de fevereiro em Salvador, BA, onde seus devotos se reúnem para lhe dar oferendas, flores, jóias, perfumes, entre outras.
Yemanjá
Google Imagens, 2016.
Neste ano de 2016 Yemanjá irá trazer um pouco de nostalgia perto do fim do ano, porém trará um pequeno ciclo de águas, como todo ano de Oxalá, terminaremos com muitas chuvas. E também será um ano que ela nos incitará a ter mais amor pela família, a ter mais bondade no coração e confiança nos nossos semelhantes.
Assim termino o texto pedido a Oxalá e a Yemanjá um ano de paz para o mundo, que o ser humano encontre os caminhos que nos leve a uma humanidade realmente humana, que possamos aprender a ver o outro como uma extensão do nosso amor e toda nossa consideração. Que nossas crenças não dos separe, não nos diminua, mas que possamos juntos construir um mundo melhor para todos, sem violência, sem discriminação, sem racismo... Que possamos juntos com as bênçãos de Oxalá e Yemanjá trilhar e lutar pacificamente pela Paz.
Epa epa Babá Oxalá! Odoyá Yemanjá!
Por Ana Paula de Lima
Especialista em História e Cultura Afro-brasileira.
Observação: Existem muitas outras histórias sobre Oxalá e Yemanjá, mas aqui sintetizei apenas algumas informações.
Fontes de Pesquisa:
Blog Luz Divina: http://luzdivinaespiritual.blogspot.com.br/2015/11/oxala-o-orixa-regente-de-2016.html;
Candomblé, O Mundo dos Orixás: https://ocandomble.wordpress.com/os-orixas/oxala/. Luz de Umbanda: http://umbandayorima.blogspot.com.br/2014/02/saudacao-mae-iemanja.html